Se todas as pessoas que você cruza são como o ar: sem sabor, cor ou cheiro.
Se quem você acha interessante diz que prefere inteligência, mas sempre
finaliza com as gostosas. Se as pessoas se mostram ocas e prazerosas, como
bonecos infláveis com buracos ou proeminências que abastecem o vazio do corpo
por alguns instantes. Se é assim, só isso, que saco.
Você pode olhar pra alguém e sentir a calcinha úmida. Você pode conversar
com essa pessoa enquadrando só a boca ou os peitos, desprezando qualquer
palavra que se infiltre, porque prefere descobrir o que boca e peitos podem
fazer por você. Pode dar aquela esfregadinha sacana e inocente você sabe onde.
E no final da noite, desgastar colchões ou sofás ou bancos de carro ou pias ou
carpetes. Química não se explica, é tão violenta e irracional, que, algumas
vezes, quando passa, é comum você se perguntar “Como eu pude?”
Quando você se senta num bar para trocar palavras e bebidas com esse sujeito
ou essa sujeita, eles não sustentam quinze minutos de assunto. Ou porque seus
peitos são as únicas coisas por quem eles se apaixonaram ou porque não têm
opinião sobre nada ou o papo não se encaixa mesmo. Escolha as suas armas: tire
a roupa logo ou vá pra casa sozinho.
Aí, você prefere passar as noites em frente à TV, ignorando chamadas no
celular incapazes de esquentar os pés. Convites, que não ressuscitam o seu
ânimo. Melhor se meter com as cobertas. Porque vai ser mais do mesmo. Tudo
mecânico, mais um encontro programado para terminar em sexo. Sem que o meio da
história seja consistente. O recheio da noite passa vazio.
Onde estão as conversam que deveriam preceder o sexo? Um bom assunto também
é estimulante e, dependendo do desempenho, desenha um novo final para um
encontro. Nem sempre começamos a noite com a certeza de onde vamos encerrá-la.
Então você conhece alguém que te espanta a cada frase que deixa escapar. É
como se fossem suas, ou complementos de ideias que você não tinha encontrado a
conclusão. Ao reparar no relógio, o tempo correu e vocês ainda estão vestidos e
falantes. Quando isso acontece, bom mesmo é se atirar na pessoa, enlaçar com
pernas e braços. A melhor preliminar é a saliva de uma boa conversa. Aquela que
faz você pensar além do quarto. Pensa na manhã. Acorda tão à vontade que. É
possível se livrar da necessidade incontrolável de desaparecer da cama de
alguém quando tudo acaba.
Sexo sem compromisso é bom, é tipo um brinde, aquele doce que você precisa
comer às quatro da tarde todo dia, mas o outro tipo de sexo parece preencher
por mais tempo esse vazio afetivo que contamina as pessoas. É tipo remédio. É
tipo saciar a sede. Sexo com saliva é vital.